Onde não existe gravidade, livre do peso da responsabilidade de viver nesse planeta doente.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Sobre os relacionamentos.

Pensemos nas pessoas: você se apega, cria sentimentos por elas, e sempre sofre com isso. Seja por abandono, seja por desentendimentos, seja por distância ou por qualquer outro fator.
Vinícius afirmava que o amor é uma chama. Metaforicamente, como uma vela, a durabilidade é inversamente proporcional à intensidade. Quanto mais luminosa for, mais rápido se extinguirá. Cruel? Não. Real. Relacionamentos têm prazo de validade. Mas o que não tem validade, se a própria vida já a possui?



“que eu possa lhe dizer do amor que tive:
Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure”
Vinícius de Moraes


“A eternidade é o estado das coisas nesse momento.”
Clarice Lispector.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

capítulo 2

Melissa subiu as escadas rumo ao seu quarto. A cada degrau, o medo de um possível arrependimento se tornava mais nítido. Nem ela sabia bem o que tinha acabado de fazer. Simplesmente havia tomado uma decisão de maneira impulsiva. Nunca havia feito isso antes. A boa e velha Mel se importava com o que os outros iriam pensar, nunca tomava decisões sem antes ponderar e fazia todo o esforço possível para mostrar para os outros que sua vida era magnífica. Filha de pais que tentavam a todo o custo fazer parte da nata da sociedade carioca, fora ensinada a ser perfeita.
Agora, ela simplesmente se cansara dessa hipocrisia social e decidira mudar sua vida. Ela não tinha culpa se todo o dinheiro dos seus pais não poderia comprar um nome de alguma família tradicional. Começou a namorar Pedro por insistência da mãe. Sob o discurso de que Pedro lhes traria um nome, lhes traria status social, que ela aprenderia a amá-lo com o tempo e que isso era o que realmente importava para uma vida plena e feliz. Ela resistiu no início, mas depois cedeu. Pedro Albuquerque era um protótipo perfeito de namorado, e gostava dela. Tudo que ela fez foi dizer sim.
Desde então, sua vida caminhou para o ápice da insatisfação pessoal, tão mascarada pela hipocrisia que ninguém nunca notou, nem mesmo seus amigos. Mas agora, ela havia cansado de tudo aquilo e decidira fazer o que quisesse e o que tivesse vontade, na hora que tivesse vontade. Optara por agir de acordo com os seus princípios e vontades, mesmo que isso magoasse seus pais.
Chegara o último degrau. Ela segurou a maçaneta, hesitou por um momento e disse baixinho, como um desabafo para si mesma:
- eu fiz o certo. Não era justo estar prendendo-o daquele jeito. Três anos, e eu não o amava, embora saiba que não encontrarei pessoa melhor do que ele para me relacionar. Assim, eu o estou poupando, e poupando a mim. Pedro vai sobreviver. Chega de me importar com os outros, daqui pra frente, vou me importar comigo, com os meus objetivos e vou ser o que eu realmente sou.
Entrou no quarto, tirou o vestido, deitou-se e dormiu. Sem banho, com maquiagem.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

capítulo 1

Era o início de outubro, de um ano que não importava. Eles estavam no carro, voltando de um fim de semana no sítio do avô dele. Tudo havia sido perfeito, assim como o namoro de 3 anos havia sido até então. Nunca brigavam, ele estava sempre disposto a ouvi-la e acalmá-la. Pedro era o namorado perfeito, ou melhor, a perfeição em pessoa: 19 anos, educado, sincero, romântico, esforçado, inteligente e bonito. Como era bonito.
Ela também não ficava rebaixada perto dele. Alta, esguia, cabelos loiros e lisos, mas levemente encaracolados nas pontas. Olhos expressivos e de um castanho profundo, ainda mais destacados por cílios longos, quase que cruéis. Boca carnuda sempre coberta por um gloss levemente rosado que dava o toque final naquele rosto que parecia feito à mão. Era inteligente como ele, e tinha um esforço quase que doentio para que tudo estivesse em seu lugar certo, em seu eixo, perfeccionista como era. Tinha o sonho de fazer a faculdade perfeita, ter o casamento, os filhos e emprego perfeitos. Mas agora, ela estava simplesmente trajando um vestidinho de verão rosa claro e sandálias de marca igual ao seu nome. Melissa estava muda, com a cabeça apoiada no vidro do carro. Seus lindos olhos traziam uma expressão vazia. Naquele momento, se eles são mesmo a janela para a alma, sua alma estava vagando, explorando um lugar bem longe dali. Ele a perguntou se estava tudo bem, ela disse que sim. Sua clara fisionomia mostrava que não. Ela parecia estar pensando em algo que mudaria toda a sua vida. E estava.
Pedro parou o carro. Tinham regrassado, chegara a hora da despedida. Ele abriu a porta do carona, ela desceu e ele a segurou pela cintura, fechou a porta de maneira gentil, e empurrou a garota levemente contra o carro, mas firme. E a beijou. Um beijo tenro, delicado. Retribuído quase que com culpa. Deram-se as mãos e andaram até a porta da casa. Ela soltou a mão dele e finalmente disse alguma coisa.
- Eu quero terminar.
Ele riu.
- Mel, você não é de brincar, por que quer começar agora? Melhor você entrar logo, antes que eu não resista, te agarre e te leve pra minha casa!
Ela manteve a feição e então ele entendeu que ela não queria começar a brincar. Era sério. Aparentemente três anos de perfeição estavam sendo descartados. Pedro sentiu-se congelar, estremecer e ter seu coração fragmentado em milhões de pedaços. Pensou em tentar fazê-la mudar de idéia enquanto tentava controlar a dor, mas tudo que conseguiu fazer foi perguntar o porquê. O que poderia ter acontecido no final de semana? Se correra tudo bem, o que mais poderia abalar um relacionamento tão exemplar?
- Desculpa, pê. Não aconteceu nada. Eu só cansei disso. Cansei de tentar ser perfeita, cansada de todo esse marasmo, de toda essa perfeição. Eu não sei o que eu quero. Mas agora eu vejo que é bem diferente de tudo que consegui. Obrigada por todos esses anos e por todo o carinho. De verdade. Não me procura mais, por favor.
Dizendo isso, beijou-o na testa de forma estalada, abriu a porta, olhou-o mais uma vez, e entrou. Ele estava apático, parado exatamente onde ela o deixou. Então olhou pro chão, como quem procura pelo coração despedaçado, e dirigiu-se ao carro. Entrou, respirou fundo e foi embora. Pedro conhecia Melissa muito bem, e sabia que quando ela tomava decisões, ela não voltava atrás. Entretanto, não precisava conhecê-la por tanto tempo para saber que aquele último olhar era definitivo, ela não queria vê-lo nunca mais.

domingo, 9 de agosto de 2009

PRÓLOGO.

estou escrevendo um livro. se vai ficar bom, não faço a menor idéia. e nem quanto tempo levarei para terminar. mas vou postá-lo aqui. :)

.

PRÓLOGO.

Mais uma vez, como uma menininha indefesa, ela estava presa no seu mundinho, cada vez mais paralelo a realidade, enquanto se via sentada em sua cama, a chorar lágrimas que cada vez mais se assemelhavam a sangue. Com tanta gente no mundo, por que ela o queria tão fortemente? Por que mesmo sabendo que poderia muito bem viver sem ele, ela continuava a insistir nesse amor platônico?
Enquanto ela se via presa na fantasia e nas lembranças que faziam seu coração palpitar, o telefone tocava.